Reconhecimento ao talento brasileiro


Entrevista Marcos Roberto >>>  Diretor da empresa Intacto

ALYSSON LISBOA NEVES

Madri – Na edição do Campus Party que aconteceu em São Paulo em janeiro, dois brasileiros foram selecionados para mostrarem seus trabalhos na versão européia do evento. E aqui no Campus Party Europa, não decepcionaram. Concorrendo com outros cinco trabalhos da America Latina, o brasiliense Marcos Roberto Martins, de apenas 25 anos, levou o Prêmio Telefônica a La Innovación Joven Latinoamericana. Ele desfilava com seu cheque pelos corredores do evento e esbanjava alegria.
Formado em Ciência da Computação pela UnB, além de reconhecimento, ele embolsou três mil euros como prêmio. O projeto, ITProject, da sua empresa Intacto, é um software voltado para construção de aplicações interativas para a TV digital.  
“Acredito que o Brasil hoje está na vanguarda na TV digital aberta”
Como surgiu a ideia de desenvolver um aplicativo para a TV digital. Uma área ainda tão incipiente no Brasil:
A ideia era facilitar o desenvolvimento de aplicativos para a TV digital quando ela começasse a funcionar no Brasil. Queria desenvolver algo que fosse viável para o trabalho de programadores, publicitários, designer etc. A ideia surgiu quando eu ainda estava na faculdade.  Buscava uma solução que fosse simples e muito intuitiva. Primeiramente, lancei o Tuig, gerador de interface para o usuário (televisión user interface generation). Esse foi o primeiro programa desenvolvido pela minha empresa. O ITproject foi então pensado para o mercado de TV Digital que ainda estava se formando. Achei que seria um bom caminho a seguir. O foco do produto é para a TV digital aberta, que não depende das operadoras de TV por assinatura.

Qual o valor que o desenvolvedor terá que pagar para utilizar o software?
O aplicativo foi desenvolvido na plataforma opensouce para que todos tivessem acesso gratuitamente. Quando a gente for disponibilizar o aplicativo, que ainda está em testes, vamos cobrar uma valor irrisório para a versão mais simples, e uma versão mais robusta para as emissoras de televisão que quiserem utilizar o serviço. Pensamos em um produto para ser divulgado na Internet e outro para atender ao mercado corporativo.

A TV digital no Brasil ainda não é realidade. A TV pública também não está evoluindo rapidamente. O que você pensa sobre esse atraso no Brasil?
Acho que as coisas não estão tão ruins assim, mas acho que o governo tem que liberar mais linhas de crédito para empresas que queiram investir na TV digital aberta. O conversor também tem que reduzir seu preço para estimular a compra. O governo já deu incentivo fiscal para empresas que fabricam conversores, e a tendência é de que as coisas comecem a evoluir.

O padrão escolhido pelo Brasil é o melhor, já existe interatividade?
O padrão brasileiro é o ISDB-TB, uma modificação do ISDB-T que é o padrão japonês. Esta modificação melhora a interatividade do sistema. Nosso programa funciona tanto no sistema DVB/T (padrão europeu) quanto no ISDB-T. Primeiramente o ITProject tinha sido pensado para o padrão europeu. Tive que fazer algumas mudanças depois que o Brasil optou pelo modelo japonês.  Na verdade, nosso sistema é um padrão nipo-brasileiro porque sofreu melhorias para permitir mobilidade, ou seja, a TV via celular. Este padrão, felizmente, está sendo espalhado por toda América Latina. Para se ter uma ideia, o Uruguai já usa o padrão brasileiro, Alguns países da África também estão adotando este modelo, mas a interatividade, tanto no Brasil quanto em outros lugares do mundo está estagnada.



“Pensamos em um produto para ser divulgado na Internet e outro para atender ao mercado corporativo

Como seu aplicativo pode ser utilizado?
A ITV Project permite a qualquer pessoa, criar softwares para interatividade. Um equipamento, instalado na casa do assinante, recebe o aplicativo via internet. Se você procura uma serviço de entrega de pizza, por exemplo, utiliza o buscador dentro da televisão e encontra uma loja para fazer seu pedido, diretamente na televisão. O que fazemos é possibilitar que o dono da pizzaria crie um aplicativo para venda a partir da tela da televisão o (t-com).  É possível ainda desenvolver jogos  (t-games),  e ações de governo conhecido como t-gov. Você poderá ainda participar de enquetes como, por exemplo, uma votação do Big Brother Brasil, diretamente com o controle remoto.
O Brasil tem apoio de empresas estrangeiras para o desenvolvimento de produtos para a TV digital?
Na Europa a grande parte é TV paga tem um modelo fechado. Não é permitido o desenvolvimento de produtos para a TV digital, como é nossa proposta aqui. O Brasil conseguiu o apoio da Sun Microsystems para desenvolvimento da TV digital e acredito que o Brasil hoje, está na vanguarda na TV digital aberta.
Como a interatividade da TV vai efetivamente chegar a casa dos brasileiros?
Acho que agora a coisa vai andar. Faltava padronização internacional que finalmente foi aprovada pela ITU (international telecomunication Union) neste mês. O evento é um marco histórico para a TV digital brasileira.
E quais são os próximos passos da sua empresa?
Agora quero descansar um pouco. Fiquei muitos meses trabalhando neste projeto. Vou a Alemanha e França de férias e depois, quando regressar ao Brasil, vou dar continuidade a este projeto e pensar em novos aplicativos.

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