Lang Lang e a escassez


O pianista chinês Lang Lang tem um talento espantoso. Tocou na abertura das olimpíadas daquele país e executa obras complexas sem partitura. Assisto a seus vídeos no YouTube e, como estava em São Paulo, resolvi ir até a Fnac da Avenida Paulista para comprar um CD ou DVD do artista.

Lang Lang longe das lojas de CDs e muito perto da pirataria digital
Lang Lang longe das lojas de CDs e muito perto da pirataria digital

Frequento a Fnac há pelo menos 10 anos. Sempre que vou a São Paulo dou uma passada por lá. Nos últimos anos venho observando um baixo astral e um desprazer no rosto dos funcionários. A empresa, para mim, sempre foi o lugar da cultura pop, dos letrados, de gente bacana e dos gamers, mas o departamento de CDs e DVDs hoje está jogado às traças, literalmente abandonado com prateleiras quase vazias.

Pela ordem alfabética busquei um CD do pianista Lang Lang e não encontrei, nem tampouco um DVD. Localizei a triste funcionária do setor que consultou o estoque e disse: “Não temos nem DVD nem CD desse artista”. A tela mostrava o estoque zerado. Inconformado, desabafei. ˜O que é facil de baixar de graça na web ou assistir on-line vocês têm aos montes! Agora, um CD menos comum, para quem está disposto a pagar por uma mídia original, vocês não têm.˜ E ela brilhantemente respondeu: “Só temos o que é vendável” e completou: “É o nosso Brasil”. Restou-me apenas dizer adeus e voltar para a rua.

Não vivemos mais na era da escassez. Podemos ter acesso a qualquer música ou filme em qualquer dispositivo, muitas vezes de graça. Alguns poucos gostam de quebrar a regra e fazer a coisa certa, pagar pelo conteúdo. O CD duplo do artista custa US$ 3,99 na Amazon americana. Na Fnac, se existisse, tenho certeza de que não sairia por menos de R$ 50.

Enquanto o marketing luta para manter o negócio, o despreparo de empresas globais parece coisa de amador. Já consultei o CD do artista em várias lojas tanto em São Paulo como em Belo Horizonte e nenhuma empresa pediu meus dados ou marcou essa informação no banco de dados. Será que sabem das consultas infrutíferas que os funcionários estão realizando em seus terminais? Acredito que não.

Fnac da Paulista. Muito espaço e pouco estoque
Fnac da Paulista. Muito espaço e pouco estoque

Enquanto Lang Lang não vem tocar piano aqui em Belo Horizonte, o que parece muito improvável, o jeito é esperar que o artista vá descansar suas obras em algum sebo da Praça da Sé em São Paulo. Lá, sim, tem estoque, variedade, organização e gente disposta a vender. Afinal de contas, esse é o negócio deles, vende-se com abundância a escassez.

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