Ellen Cristie*
Que vivemos uma transição entre a crise do jornal impresso e a consequente migração das notícias e da publicidade para a internet, não há a menor dúvida. Sendo assim, é impossível não observar as mudanças propostas pelos vários jornais na tentativa de deter o crescimento das novas mídias e manter as parcas assinaturas que ainda resistem ao tempo.
Vide o exemplo de jornais como O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo, que lançaram, em março e maio deste ano, respectivamente, novas propostas editoriais e gráficas, novidades estas muito criticadas por analistas e teóricos da comunicação, sendo apontadas apenas como uma maquiagem de tudo que já foi visto e utilizado em linguagem tipográfica.
Em ambos, o destaque ficou por conta do investimento em pessoal, em novos profissionais e funções, em bandeiras como convergência, análise, precisão e credibilidade.
O Estadão atacou com nova capa em cinco colunas, com mudança tipográfica, pregando elegância e melhor legibilidade. Na retaguarda, o renomado Francisco Amaral, diretor de projetos da empresa de consultoria Cases I Associats.
Em contrapartida, a Folha respondeu com tipologias diferentes na capa e divulgou um batalhão de analistas que tinham a missão de facilitar o acesso à informação e à compreensão da notícia em seus vários campos. Na linha de frente, o diretor de redação Otávio Frias Filho, destacando a necessidade de os jornais se tornarem mais atraentes e úteis.
Mas será que todas essas “transformações” reverberaram no aumento da circulação desses jornais? Creio que não. Aliás, o que ouvi foram leitores insatisfeitos com as mudanças e com o fim de alguns cadernos que ainda mantinham uma certa realeza sobre os concorrentes.
FOLHA DE S. PAULO
- 128 analistas
- 12 meses de trabalho
- 70 colunistas antigos
- 29 novos colunistas
- 12% a mais no tamanho das letras
O ESTADO DE S. PAULO
- 80 blogs assinados
- 91 colunistas
- 111 profissionais fizeram curso de edição fotográfica
- 106 de linguagem gráfica
- 41 de infografia
- 30 de pauta
O PÓS-NOTICIOSO
Em artigo publicado em maio, o diretor para o Brasil da Innovation Media Consulting, Eduardo Tessler, chegou a analisar os dois produtos e foi categórico. “Os jornais hoje em dia devem considerar a notícia como algo que já foi dado em outros veículos, fora do papel. Eles devem considerar não o que aconteceu, porque a audiência já sabe, mas por que aconteceu e para quê, como uma revista diária.”
Isso é tão óbvio e consensual entre jornalistas e seus chefes… Mas por que os jornais continuam insistindo em divulgar a queda deste ou daquele avião, a morte de uma celebridade, ao invés de avançar nos fatos, discutindo questões maiores como a guerra predatória entre as companhias aéreas em busca de clientes ou, por exemplo, as consequências para a literatura com a morte do escritor português José Saramago?
NOVOS FORMATOS OU REPAGINAÇÃO?
No fim de julho, o jornal Diário de S. Paulo (tiragem de 100 mil exemplares/dia) estreou uma outra roupagem. Em formato berliner (nem tão pequeno como o tablóide e nem tão grande como o standard), a publicação lançou mão de alguns artifícios interessantes. Apenas três macroeditorias compõem o jornal: o cotidiano ou hard news, matérias mais leves ou soft news e esportes.
São 64 páginas diárias, todas coloridas. O visual é moderno, ousado e um tanto quanto clean – abusa dos brancos, diante de um leitor contemporâneo, que não dispensa muito tempo para a leitura.
Na divulgação, a frase “O Diário trabalha o POR QUE e o COMO, muito mais do que o que, o quem, o quando e o onde.
Se é a descoberta da fórmula mágica para vender jornais? Não tenho ideia, mas a grande verdade é que ninguém ainda descobriu a galinha dos ovos de ouro e, enquanto isso, assistiremos a uma série de tiros no escuro.
(*) Ellen Cristie é jornalista, mestre em Comunicação Social e subeditora do jornal Estado de Minas no Núcleo de Suplementos e Revistas. É colaboradora deste blog e escreve para o blog De bem com a vida
Oi.
Sou aluno do curso de Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais e acabei vindo parar aqui por conta de uma indicação do Prof. Nísio Teixeira.
Estou desenvolvendo um estudo sobre diagramação e – paralelamente – um diário virtual de pesquisa (hoje vocês foram o assunto do dia no meu blog).
Enfim, só queria deixar registrado que estou acompanhando seus textos publicados e que essa postagem é genial.
Abraços.
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Oi, Luís, que bom que vc se identificou! Se quiser participar, o espaço está aberto… O que é esse estudo sobre diário virtual de pesquisa? Um abraço e boa sorte no seu projeto!
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É que estou fazendo uma pesquisa intitulada “Estudo sobre diagramação e evolução de planejamentos gráficos em impressos” e devo desenvolver um diário de pesquisa num formato de blog.
Minha proposta inclui o acompanhamento de sites sobre o assunto e acabei vindo parar aqui.
Quando tiver um relatório final e a proposta de diagramação, eu te envio… isso é, se vocês quiserem conferir.
Obrigado e abraços.
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Oi Luís, tenho muito interesse em ver seu trabalho de pesquisa. Meu estudo vai falar um pouco sobre isso também. Se precisar de algum tipo de ajuda estou à disposição ok? Abs. Alysson
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Ellen, parabéns pelo texto. Os leitores mudaram muito a relação com o impresso e com a manipulação de papéis de maneira geral. Os jornais devem parar de tentar mudanças profundas e buscar sempre o conteúdo local, algo que a internet não consegue fazer bem.
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Pois é, concordo! Essa receita do local não é nova, mas resolve. Lembro-me mto bem, em 1996, quando Carlos Perez, espanhola de Navarra, nos deu um curso e vivia repetindo: “Local, local, local”…nunca esqueci disso…mas muitos jornais tentaram se nacionalizar, o que nem sempre dá certo. A maioria dos habitantes de uma cidade ou de um estado querem se ver estampados nas páginas dos jornais…
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